Design for Disassembly: Para construir o futuro é preciso desconstruir
22 de outubro de 2020Tempo de leitura: 3 minutosÉ isso mesmo que você leu: as construções do futuro serão desconstruções. A técnica Design for Disassembly (DfD) ou “projetar para desmontar” já pode ser considerada uma importante peça no futuro da arquitetura e do design. Ela propõe, justamente, a desconstrução do que já foi construído previamente de maneira fácil e ecologicamente amigável.
A abordagem está diretamente ligada a uma crescente preocupação com o excessivo consumo de recursos naturais, o desperdício e a baixa taxa de reciclagem na indústria da construção civil. Quando projetamos para desmontar estamos projetando com a intenção de reutilizar os materiais continuamente, preservando os recursos do planeta e construindo um futuro para a posteridade.
O conceito surgiu na década de 1990, mas hoje ainda é relativamente desconhecido por grande parte dos arquitetos. Até pouco tempo atrás, poucos projetos haviam sido concebidos para serem desmontados em um futuro próximo, mas a abordagem está se popularizando.
O novo Plano da cidade de Londres, por exemplo, exigirá um detalhado estudo de reciclagem e reutilização dos componentes de todos os projetos propostos. O Banco de Materiais dos Edifícios (BAMB) da União Européia e a EPA (Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos) também lançaram recentemente algumas diretrizes para que os arquitetos incorporem estratégias de desmontagem em seus processos de projeto. Ainda, alguns dos principais selos de certificação ambiental também consideram o planejamento a longo prazo como um critério fundamental para a avaliação da sustentabilidade de um edifício.
Mas afinal, como podemos projetar para desmontar?
Englobar os princípios de DfD requer um elemento muito importante: tempo de planejamento. É preciso garantir, desde as primeiras fases de projeto, que os materiais utilizados na construção de um edifício possam ser adequadamente reutilizados ao final de sua vida útil, além de incluir instruções precisas para a desmontagem de seus elementos e uma análise das possibilidades de reciclagem e reutilização.
Outro princípio básico do design DfD está na criação de conexões e vínculos reversíveis entre os elementos construtivos de um edifício assim como a escolha de sistemas complementares que possam ser montados e desmontados sem a necessidade da utilização de ferramentas pesadas.
A prática de projetar para desmontar está longe de ser uma tarefa fácil, ela exige responsabilidade e esforço de todas as partes envolvidas no processo de projeto e construção.
A tecnologia BIM pode ser aliada neste processo. Através dela podemos identificar e rastrear materiais e componentes ao longo de sua vida útil, bem como fornecer dados para a regulamentação do uso e do ciclo de vida completo dos materiais.
DfD na prática
Muitos designers e arquitetos adotaram recentemente os princípios de projetar para desmontar. É o caso da Base de Sustentabilidade da NASA, construída pelo escritório William McDonough + Partners.
No projeto, foi escolhida uma estrutura de aço em vez de concreto, facilitando a desmontagem. Com essa escolha, o prédio pode ser desmontado e reparado caso seja danificado devido a terremotos ou outros fenômenos naturais. Além disso, o edifício foi pensando para se fundir com o meio ambiente, aproveitando ao máximo a luz natural disponível, a ventilação natural e sombreamento.
Foto: © William McDonough + Partners
Foto: © William McDonough + Partners
No Brasil, a Arena Olímpica de Handebol projetada pela Oficina de Arquitetos foi pensada para que sua estrutura fosse reutilizada na construção de quatro escolas na cidade do Rio de Janeiro.
Foto: © Oficina de Arquitetos
O futuro é uma aposta
Projetar para desmontar é uma prática muito recente e por isso seus resultados ainda não são visíveis. Porém, considerando a crescente expansão das áreas urbanizadas em nosso planeta e os impactos da construção civil no meio ambiente, faz-se necessário apostar em alternativas que possibilitam a criação de um futuro melhor e sustentável de verdade lá na frente.